Micróbios negligenciados na pesquisa científica: A falta de estudo sobre espécies essenciais

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Micróbios negligenciados

Micróbios negligenciados na pesquisa científica

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Pesquisas recentes destacam uma realidade preocupante na microbiologia. A maioria dos micróbios ainda carece de estudos aprofundados. Paul Jensen, biólogo da Universidade de Michigan, revisou os estudos sobre uma bactéria que causa cáries, o Streptococcus sobrinus. Ele percebeu que já tinha lido todos os artigos relevantes sobre essa espécie, que somam apenas algumas dezenas.

Viés no estudo de micróbios

A situação observada por Jensen não é isolada. Um estudo publicado no bioRxiv revela que apenas dez espécies bacterianas concentram metade das publicações científicas. Além disso, quase três quartos das bactérias nomeadas não têm um único artigo dedicado. Esse viés mostra uma concentração nos micróbios mais conhecidos, enquanto espécies potencialmente importantes permanecem inexploradas.

Nicola Segata, especialista em microbioma da Universidade de Trento, observa que micróbios abundantes em microbiomas humanos saudáveis raramente aparecem entre os mais estudados. Muitos microrganismos essenciais para a saúde nem sequer receberam nome, muito menos foram analisados em profundidade.

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Modelos bacterianos e suas limitações

Assim como em outras áreas da ciência, os microbiologistas costumam priorizar organismos modelo, como a Escherichia coli. Os cientistas estudam amplamente essa bactéria por ela ser fácil de cultivar e por fornecer insights valiosos.No entanto, à medida que os cientistas sequenciam novas amostras de pele, fezes e solo, cresce a oportunidade de descobrir micróbios com características únicas.

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Nos últimos 25 anos, a discrepância entre bactérias nomeadas e estudadas aumentou, especialmente com os estudos de microbiomas. Muitos micróbios encontrados em ambientes como oceanos e solos permanecem fora do radar da ciência, apesar de desempenharem um papel crucial nos ecossistemas.

Impacto do viés na microbiologia

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A concentração de estudos em poucas espécies traz sérias consequências. Brett Baker, ecologista da Universidade do Texas, alerta que nenhum dos micróbios dominantes na natureza está entre os mais pesquisados. Essa lacuna prejudica o avanço do conhecimento sobre ecossistemas naturais e microbiomas humanos.

Para corrigir esse desequilíbrio, é necessário superar desafios técnicos. Micróbios pouco estudados geralmente não crescem bem em laboratório. Em contraste, organismos como a E. coli são amplamente utilizados devido à sua facilidade de cultivo. Contudo, novos avanços podem mudar esse cenário.

Soluções para micróbios negligenciados

Iniciativas como o projeto Align to Innovate buscam reverter o viés da microbiologia. Com um investimento de US$ 1 milhão, a organização analisa o crescimento de 1.000 micróbios em condições variadas. Esses dados estarão disponíveis para cientistas ao redor do mundo e ajudarão na criação de modelos de inteligência artificial mais precisos.

Jensen acredita que os cientistas podem aprender a cultivar micróbios importantes e subestimados. Baker sugere que estudar misturas de micróbios, em vez de espécies isoladas, pode ser uma abordagem eficaz. Muitos organismos prosperam em interações complexas com outros microrganismos.

O futuro da microbiologia

A ciência não deve abandonar organismos modelo, mas precisa ampliar o foco para incluir espécies negligenciadas. Jensen afirma que, se os cientistas continuarem com as práticas atuais, poderão atrasar o entendimento microbiológico por milhares de anos. Portanto, as mudanças se tornam urgentes para explorar o verdadeiro potencial dos micróbios na saúde e nos ecossistemas.

Iniciativas globais e avanços tecnológicos podem ser a chave para transformar o futuro da microbiologia. Uma abordagem equilibrada possibilitará descobertas mais abrangentes e revolucionárias no estudo da vida microbiana.

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